Estimados irmãos e irmãs em Cristo, minha saudação Franciscana de Paz e Bem!
A liturgia da Palavra deste domingo nos convida a olhar com profundidade para a direção da nossa vida. O que tem orientado nossos passos? O que, de fato, buscamos? O que desejamos quando trabalhamos, servimos, construímos e até mesmo quando nos entregamos às coisas de Deus?
O Eclesiastes, com sua linguagem direta, quase amarga, nos recorda: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” (Ecl 1,2), como se nos dissesse que todo esforço humano, quando não está centrado em Deus, se dissolve como poeira ao vento. Trabalha-se, conquista-se, constrói-se... mas no fim, a quem tudo isso servirá? Quantas vezes corremos, nos desgastamos, sofremos por aquilo que não permanece?
São Paulo, na carta aos Colossenses, nos dá uma resposta segura e cheia de esperança: “Aspirai às coisas do alto, onde está Cristo” (Cl 3,2). Ele nos exorta a deixar o homem velho e nos revestir do homem novo, renovado segundo a imagem do Criador. Isso exige discernimento, exige renúncia, exige fidelidade. Mas é o único caminho que dá sentido ao nosso serviço na Igreja: viver com os olhos voltados para o alto, mesmo pisando neste chão.
No Evangelho, Jesus é procurado por alguém que quer que Ele resolva uma herança. Mas o Senhor, com firmeza, responde: “Cuidado com todo tipo de ganância” (Lc 12,15). E nos conta a parábola do homem que acumulou tudo para si, pensando poder descansar por muitos anos... mas naquela mesma noite, sua vida foi pedida de volta. E para quem ficou o que ele acumulou?
O problema daquele homem não era o trabalho ou o sucesso, era o coração fechado, voltado para si mesmo. Ele pensava em guardar, não em partilhar. Em acumular, não em servir. Em usufruir, não em amar. Era rico de bens, mas pobre diante de Deus.
Meus irmãos, essa Palavra nos interpela hoje com força especial. Também na vida da Igreja somos tentados, muitas vezes, a buscar aquilo que não permanece: cargos, títulos, reconhecimento, influência. Há quem pareça caminhar conosco, mas só enquanto houver algum brilho. E quando a cruz aparece, ou quando o aplauso se cala, o coração mostra onde realmente estava: não nas coisas do alto, mas nas vaidades que passam.
É doloroso, mas não é novo. A Palavra nos prepara para isso. E mais: nos consola. Porque nos recorda que, aos olhos de Deus, não são os grandes celeiros ou as longas listas de conquistas que contam, mas a fidelidade silenciosa, a escuta atenta, o amor gratuito, o serviço sem vanglória.
Celebramos ontem a instalação da Província Capuchinha do Habbo e a memória de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula. Que coincidência cheia de significado! A Porciúncula, pequena e escondida, foi o lugar escolhido por São Francisco para recomeçar tudo. Não havia ali grandeza humana, mas havia a presença do Altíssimo. Foi ali que ele experimentou a misericórdia, a pobreza, a fraternidade. Francisco, diferente do homem da parábola, nada quis guardar para si. Tudo ofereceu. Tudo entregou. E por isso, tudo recebeu.
Que nós, como filhos espirituais de Francisco, escolhamos também a “melhor parte”. Que sejamos irmãos e irmãs que vivem voltados para o alto, com os pés no chão da missão, mas o coração livre de toda vaidade. Porque a vida de um homem não consiste na abundância de bens, mas em ser rico diante de Deus.
Dado no Capão Grande, Tabosa, aos III dias do mês de agosto do ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de MMXXV.
+Cardeal Araújo.
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